Transplante de hepatócitos de dadores
Ensaios clínicos preliminares que consistiram no transplante de hepatócitos de um dador para o fígado de um paciente hepático crónico tiveram sucesso limitado. Existem vários obstáculos significativos para esta abordagem.
A fixação e integração (ou sucesso do enxerto) destas novas células é geralmente muito baixa, devido ao ambiente hostil do fígado lesado. Os cientistas estão a investigar métodos para superar este problema - por exemplo, encapsulando as células do dador numa substância protetora. Outra abordagem que está a ser explorada é o transplante simultâneo de células que inibem o ambiente inflamatório, o que poderia reduzir o risco de rejeição do transplante.
Uso de células estaminais para criar uma fonte de células para transplante
Uma grande barreira para a viabilidade dos transplantes celulares, tais como a terapia para cirrose, é a necessitar de uma grande quantidade de novas células, que não estão facilmente disponíveis. Células estaminais, tais como as células estaminais pluripotentes induzidas (células iPS, em inglês), ou as células progenitoras hepáticas (HPC, em inglês), combinadas com novas técnicas de cultura de células em laboratório, podem oferecer uma ajuda importante na criação de novos hepatócitos em quantidade suficiente para o transplante.
A utilização de células iPS para criar novos hepatócitos pode também ajudar a evitar o ataque pelo sistema imunitário, pois as células iPS são criadas a partir de células do próprio paciente, como por exemplo as suas células da pele. Os cientistas também estão a investigar se técnicas de engenharia de tecidos podem ser usadas para modificar células para transplante, reduzindo o risco de rejeição imune.
Subsistem ainda várias questões fundamentais que devem ser respondidas antes de transplantes de hepatócitos derivados de células estaminais chegarem a uso clínico. Será importante confirmar que os hepatócitos derivados de células estaminais são seguros e que funcionam como hepatócitos normais. Se estas células forem aprovadas para aplicações clínicas, estudos de longo prazo terão de ser realizados para avaliar a sua segurança e eficácia a longo prazo.
Células progenitoras hepáticas
Os cientistas identificaram células progenitoras do fígado - células percussoras que podem originar novos hepatócitos. Atualmente, eles estão a realizar estudos para compreender como é que podem ser usadas como uma ferramenta na investigação e para tratar pacientes com doença hepática crónica.
Os cientistas estabeleceram técnicas para identificar e isolar células estaminais hepáticas de tecido doado, e cultivá-las em laboratório como “organoides” (“modelos” celulares tridimensionais de um órgão que podem ser cultivados e mantidos em laboratório). Como têm uma arquitetura tridimensional, os organoides são mais semelhantes ao ambiente natural do fígado do que a cultura celular tradicional. Estas células crescem rapidamente e de forma estável. Estes organoides podem ser usados para investigar novas terapias, bem como para tentar recriar e perceber os mecanismos da doença. A longo prazo, os organoides hepáticos poderão fornecer uma fonte de tecido para transplantes clínicos; estudos em ratinhos usando células humanas indiciam que este é um caminho promissor de investigação.
Utilização de células imunes para mudar o ambiente do fígado lesionado
Uma outra direção para novos tratamentos pode ser o uso de terapias celulares que visam o ambiente do fígado lesionado para reduzir a inflamação e a cicatrização, estimulando a regeneração do tecido hepático remanescente. Atualmente, vários tipos de células estão a ser investigadas em ensaios clínicos com essa finalidade, baseando-se no seu papel natural no organismo.
Os macrófagos, são um tipo de célula do sistema imunológico que “limpa” as células mortas e detritos deixados após uma infeção ou lesão. Eles também promovem a regeneração. A terapia com macrófagos é potencialmente promissora para ajudar a reparar o tecido hepático danificado. As células do sangue chamadas “monócitos” (percussoras dos macrófagos) podem ser isoladas e tratadas em laboratório para produzir grandes quantidades de macrófagos, que já foi demonstrado que desempenham um papel na resolução de cicatrizes hepáticas. Estudos recentes mostraram que os macrófagos secretam enzimas que dissociam diretamente o tecido cicatricial e ajudam a remover as células que produzem inicialmente o tecido cicatricial.
Quando testados em ratinhos com fígados lesionados, a terapia com macrófagos mostrou um efeito benéfico tanto na reversão do tecido cicatricial como na promoção da regeneração do fígado. Quando a quantidade de tecido cicatricial é reduzida, o fígado funciona melhor. Macrófagos humanos foram avaliados em ensaios clínicos e demonstraram ser seguros para o uso em pacientes com cirrose. Estas células estão atualmente a ser avaliadas para determinar se são eficazes na melhoria da função hepática em pacientes com cirrose, por comparação com o regime de tratamento padrão.
Os macrófagos são uma terapia celular atraente porque podem ser derivados das células sanguíneas do próprio paciente, e assim, não seriam rejeitadas pelo sistema imune, como por vezes acontece com transplantes de órgãos.